Primeiras impressões da cadeira de MAPDE: entre quizzes filosóficos, peixinhos de David Foster Wallace e reflexões sobre tecnologia e aprendizagem.

Hoje tive a segunda aula da cadeira de MAPDE, “epistemologia”, aquele ramo da filosofia que, francamente, parece ter sido inventado para nos pôr a duvidar até da existência do próprio café matinal. E já começo com um resultado polémico no teste: segundo o quiz feito na aula, sou oficialmente um subjectivista. Ou seja: para mim, não existe realidade exterior, estamos todos a inventar isto juntos. Confesso que fiquei dividido entre um sentimento filosófico profundo e vontade de ir perguntar à senhora da cantina se a fila do almoço também era uma ilusão coletiva.
Na aula fizemos um tour pelas grandes visões do conhecimento: objetivismo, construtivismo e subjectivismo.
Vimos ainda o famoso discurso do David Foster Wallace e se há coisa que me marcou foi a visão de que a educação não serve só para nos ensinar a “pensar”, mas sim a escolher em que pensar.
Basicamente, aprender que posso escolher se fico irritado na fila do Pingo Doce ou se transformo esse momento em contemplação zen é, provavelmente, o superpoder adulto mais subvalorizado de todos os tempos. Adorei a parte em que ele diz que as verdades mais óbvias são as que tendemos a não ver. E aqui entre nós, acho que esta é a melhor defesa possível para quem usa óculos embaciados: “Não é miopia, professor, é epistemologia aplicada”.
A metáfora dos peixes levou-me a pensar: será que estou a nadar, como os peixinhos do discurso do David Foster Wallace, sem perceber a “água” à minha volta?
No fundo, ser subjectivista é um pouco aceitar que cada um tem o seu próprio aquário mental, com peixes coloridos (ou tubarões ansiosos), e cada um de nós vê a água da sua maneira. Será isto reconfortante? Ou simplesmente uma desculpa para explicar porque é que nunca concordo com as avaliações dos professores sobre os meus trabalhos?
Houve também tempo para discutir se a tecnologia é amiga ou inimiga da aprendizagem.
O artigo do Clay Shirky é um exemplo de como até os mais geek podem “proibir” computadores na aula, tudo em nome do foco. Cada um usa a evidência como lhe convém, tal como qualquer bom estudante faz ao citar autores na véspera da entrega do trabalho.
Passamos ainda pelo artigo do prof. David Oliveira, que virou ao contrário o método tradicional de investigação: começou por recolher dados antes de decidir para que teoria serviam.
Esta flexibilidade parece-me uma boa lição (e uma desculpa perfeita para quem ainda anda perdido no tema do projeto: se alguém perguntar, estamos só a ser metodologicamente inovadores, não procrastinadores).
Para terminar, aquilo que levo da segunda aula é uma bela dose de humildade epistemológica e, talvez, alguma confusão também 😅. Afinal, o conhecimento, tal como a água dos peixes, pode ser claro ou turvo, dependendo do aquário de cada um.
E, pelo sim, pelo não, amanhã vou prestar mais atenção à água e menos ao barulho dos outros peixinhos na sala. Pode ser que no fim deste semestre até consiga ver peixes onde só havia confusão.
Se isto é subjectivismo, então que seja, mas pelo menos é divertido.
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