A Ciência de Botar o Feedback no Quadro (literalmente)

Como transformar o feedback das iniciativas do Ser+ em algo físico, simples e até divertido, usando tags NFC e um quadro mágico que lê opiniões sem dramas nem formulários.

A Ciência de Botar o Feedback no Quadro (literalmente)

A Ciência de Botar Feedback no Quadro (literalmente)

Nesta aula de MADPE mergulhámos no mundo da investigação qualitativa, aquele universo em que o investigador não fica só sentado a observar à distância, mas entra no terreno, fala com as pessoas, vive um bocadinho da realidade… e, no meu caso específico, aparentemente vai andar a “colar” imanes NFC como se fossem cromos da bola.


Como cheguei aqui (ou: porque estou a imaginar estudantes a colar feedback num quadro)

O drama é simples:
Os dinamizadores das iniciativas precisam de feedback; Os estudantes não querem abrir formulários; E a verdade é que, no final da atividade, toda a gente só quer duas coisas: comer e ir embora.

Então pensei: e se o feedback… fosse físico?
Se em vez de “vai ao link e responde a 4 perguntas” fosse “toma aqui esta tag NFC, programa-a no telemóvel e cola-a no quadro como um iman bonito com sentimentos dentro”?

Basicamente:

  • o estudante escolhe a opinião na app;
  • encosta a tag ao telemóvel → pum, opinião gravada;
  • coloca a tag no quadro;
  • o quadro lê tudo, faz magia, gera estatísticas;
  • o sistema atribui pontos;
  • e no fim o dinamizador recebe uma visão geral da iniciativa… sem sofrer.

É feedback, mas com personalidade.
É avaliação, mas com gravidade (literalmente).
É gamificação, mas sem pedir mais um login.


Então… que autores é que seguram isto teoricamente?

No final da aula, o professor atirou a bomba:

“Vamos lá a mais um post no blog. Quais são os três autores mais importantes para a tua investigação?” (Ok, se calhar não foi por estas palavras, mas deve ter sido parecido)

E lá fiquei eu a olhar para o vazio, a pensar:
“Quem é que eu chamo para justificar cientificamente que ando a pôr opiniões dentro de imanes?”

Depois de um mini–espasmo existencial, uns quantos cafés e autores pouco relevantes, descobri-os. Encontrei bastantes, mas destaco estes 3 que acho perfeitos para este tema.


1. Hiroshi Ishii – O Senhor das Interações Tangíveis

Ishii é aquele autor que olha para uma mesa, uma pedra, um cubo, e diz:

“E se isto fosse uma interface digital?”

Este homem inventou a ideia de que objetos físicos podem transportar informação e que mexer neles é uma forma legítima (e poderosa!) de interagir com sistemas digitais.

Traduzindo:
As tags NFC são o exemplo perfeito do que ele defende, é um objeto que carrega feedback. É informação com corpo. E colocá-la no quadro não é só colar um iman, é usar a própria ação física como interação tecnológica.

Ishii, se me visse, diria:

“Sim, meu filho. É isto.”


2. Don Norman – O Pai do Feedback (o conceito, não a tag)

Se a minha ideia funciona, é graças ao Norman.
Ele é o homem que, pelo que deduzo do que li, deve passar a vida a dizer que:

  • as coisas devem comunicar para que servem
  • o utilizador deve perceber o que fazer sem pensar
  • e o feedback deve ser imediato e satisfatório

No meu sistema:

  • a app explica-se: “encosta a tag ao telemóvel”
  • o telemóvel diz: “feedback gravado!”
  • o quadro responde: “opinião recebida, boa sorte!” (não é grande mensagem, eu sei, tenho de pensar melhor nisto)
  • e o Ser+ dá pontos sem ninguém suar

É Norman em modo festival académico.

Sem ele, isto tornava-se um daqueles puzzles irritantes em que se fica à procura do botão que afinal estava escondido atrás da porta.


3. Liz Sanders – A Rainha do Design Com Pessoas (e não para pessoas)

O feedback é um ato social.
E o meu sistema depende totalmente da participação real das pessoas:
estudantes, dinamizadores, organização, todo o ecossistema Ser+.

Liz Sanders defende que:

  • as pessoas devem co-criar as soluções
  • a tecnologia deve nascer das experiências reais
  • e o processo deve ser colaborativo, iterativo, vivo

É exatamente o que vou ter de fazer:
Criar categorias de feedback com dinamizadores, testar o quadro em iniciativas reais, observar como as pessoas interagem, adaptar, melhorar, voltar a testar…

Ou seja: investigação-ação, versão NFC.

Sanders provavelmente diria:

“Se as pessoas “colam” o feedback num quadro porque querem, então fizeste bem o trabalho.”


Conclusão: três autores, um quadro e um pote de tags

Depois desta aula, ficou claro que o meu projeto encaixa perfeitamente naquilo que foi discutido:
é contextual, é iterativo, envolve pessoas, e sim, mete o investigador, eu, no meio da ação.

E agora tenho o meu trio teórico:

  • Ishii, que me dá a base das interações tangíveis
  • Norman, que me dá as regras do feedback e da clareza
  • Sanders, que me garante que estou a construir isto com as pessoas e não num laboratório isolado

Se isto vai funcionar?
Não sei.
Mas uma coisa é certa:

Pelo menos ninguém vai poder dizer
“não dei feedback porque não encontrei o link.”

Agora a desculpa vai ser:

“Ó professor, esqueci-me da tag no bolso.”
… e isso, meus amigos, é progresso científico.

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