Tento entender se a minha investigação deve focar-se mais no “brinquedo”, o sistema de feedback NFC que estou a criar, ou nas pessoas que o vão usar. No final, descubro que... vão ler.

Mais uma quinta-feira, mais uma aula de MAPDE, e desta vez o menu foi uma sopa de letrinhas metodológica: DSR, DBR, Grounded Theory e Practice-Based Research. Se a sigla tem três letras e soa académica, provavelmente falámos dela.
E lá vamos nós para mais um post deste blog, desta vez com o tema:
“Nos artigos que tenho lido, o desenho da investigação está mais direcionado para o produto (…), ou para a avaliação dos participantes que o experienciam?”
Esta pergunta é o equivalente académico a perguntar “gostas mais do pai ou da mãe?”. A resposta instintiva é “os dois”, mas depois de ler alguns artigos sobre Tangible User Interfaces (TUI) e sistemas de votação física (sim, isso existe e há gente a escrever coisas sobre isso), a coisa complica.
Se olharmos para a literatura de Engenharia e Sistemas de Informação (o famoso Design Science Research), a tendência é clara: o foco é o artefato.
Muitos artigos sobre Phygital Interfaces perdem 80% do tempo a explicar:
No meu caso, isto equivaleria a investigar:
É a fase da Conceptualização e Desenvolvimento. Sem isto, não há tese, há apenas uma ideia bonita num papel.
No entanto, quando mudamos a lente para a Educação ou Ciências Sociais (Design-Based Research), o “brinquedo” passa para segundo plano e o foco vira-se para o caos da realidade.
A pesquisa que fiz sobre feedback tangível (como aqueles sistemas de colocar fichas em tubos para votar no Pingo Doce, mas na versão digitalizada que eu quero fazer) mostra algo curioso: Um sistema tecnicamente perfeito pode ser um fracasso social.
Os artigos mais interessantes não querem saber se o NFC funciona (assume-se que sim). Eles querem saber:
A resposta honesta é:
Neste momento, a minha leitura e o meu trabalho estão na fase de conceptualização do produto, porque se eu não construir o quadro e programar as tags, não tenho nada para mostrar. Estou a comportar-me como um investigador de DSR, focado no artefato, na usabilidade, na engenharia da coisa.
Mas, e é um grande mas, o sucesso da minha dissertação não vai ser medido pelos gigabytes do código, mas sim pela avaliação dos participantes. Se eu construir o sistema de feedback mais avançado do mundo, com luzes LED, confettis digitais ou uma árvore toda bonita, mas os estudantes continuarem a ignorá-lo porque “dá muito trabalho meter a tag no quadro, a investigação falhou.
Portanto, respondendo diretamente à pergunta do slide:
Porque, no final do dia, o meu quadro de feedback NFC não serve para decorar a parede, serve para capturar a alma da do feedback.
E se a única coisa que ele capturar for pó… então tenho de voltar à prancheta de desenho (e beber mais um café). A ciência faz-se assim: constrói-se o produto para poder, finalmente, entender as pessoas.
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