O Dilema do Ovo, da Galinha e da Tag NFC: Estamos a avaliar a “coisa” ou a pessoa?

Tento entender se a minha investigação deve focar-se mais no “brinquedo”, o sistema de feedback NFC que estou a criar, ou nas pessoas que o vão usar. No final, descubro que... vão ler.

O Dilema do Ovo, da Galinha e da Tag NFC: Estamos a avaliar a “coisa” ou a pessoa?

O Dilema do Ovo, da Galinha e da Tag NFC: Estamos a avaliar a “coisa” ou a pessoa?

Mais uma quinta-feira, mais uma aula de MAPDE, e desta vez o menu foi uma sopa de letrinhas metodológica: DSR, DBR, Grounded Theory e Practice-Based Research. Se a sigla tem três letras e soa académica, provavelmente falámos dela.

E lá vamos nós para mais um post deste blog, desta vez com o tema:

“Nos artigos que tenho lido, o desenho da investigação está mais direcionado para o produto (…), ou para a avaliação dos participantes que o experienciam?”

Esta pergunta é o equivalente académico a perguntar “gostas mais do pai ou da mãe?”. A resposta instintiva é “os dois”, mas depois de ler alguns artigos sobre Tangible User Interfaces (TUI) e sistemas de votação física (sim, isso existe e há gente a escrever coisas sobre isso), a coisa complica.


1. O Fascínio pelo “Brinquedo” (Foco no Produto/Artefato)

Se olharmos para a literatura de Engenharia e Sistemas de Informação (o famoso Design Science Research), a tendência é clara: o foco é o artefato.

Muitos artigos sobre Phygital Interfaces perdem 80% do tempo a explicar:

  • como soldaram os fios,
  • como a antena NFC comunica com a base de dados,
  • como a estrutura foi impressa em 3D para não cair com o vento.

No meu caso, isto equivaleria a investigar:

  • “O quadro lê a tag em menos de 1 segundo?”
  • “O sistema de pontos atualiza sem crashar?”
  • “O íman cola bem ou escorrega?”

É a fase da Conceptualização e Desenvolvimento. Sem isto, não há tese, há apenas uma ideia bonita num papel.


2. A Verdade Nua e Crua do Contexto (Foco no Participante)

No entanto, quando mudamos a lente para a Educação ou Ciências Sociais (Design-Based Research), o “brinquedo” passa para segundo plano e o foco vira-se para o caos da realidade.

A pesquisa que fiz sobre feedback tangível (como aqueles sistemas de colocar fichas em tubos para votar no Pingo Doce, mas na versão digitalizada que eu quero fazer) mostra algo curioso: Um sistema tecnicamente perfeito pode ser um fracasso social.

Os artigos mais interessantes não querem saber se o NFC funciona (assume-se que sim). Eles querem saber:

  • O aluno sentiu-se mais motivado a dar feedback porque foi uma ação física?
  • Houve um sentimento de “cerimónia” ou “ritual” ao colar a tag no quadro?
  • O facto de o feedback ser visível (ver o quadro a encher-se de cores) influenciou a opinião dos outros (o tal viés social)?

Então… onde é que eu fico?

A resposta honesta é:

O meu desenho de investigação está numa transição perigosa.

Neste momento, a minha leitura e o meu trabalho estão na fase de conceptualização do produto, porque se eu não construir o quadro e programar as tags, não tenho nada para mostrar. Estou a comportar-me como um investigador de DSR, focado no artefato, na usabilidade, na engenharia da coisa.

Mas, e é um grande mas, o sucesso da minha dissertação não vai ser medido pelos gigabytes do código, mas sim pela avaliação dos participantes. Se eu construir o sistema de feedback mais avançado do mundo, com luzes LED, confettis digitais ou uma árvore toda bonita, mas os estudantes continuarem a ignorá-lo porque “dá muito trabalho meter a tag no quadro, a investigação falhou.


Conclusão: É um “Híbrido Phygital”

Portanto, respondendo diretamente à pergunta do slide:

  • Os artigos técnicos focam-se no produto (é o que me ensina a construir).
  • Mas o meu desenho de investigação vai ter de focar-se na avaliação dos participantes que o experienciam.

Porque, no final do dia, o meu quadro de feedback NFC não serve para decorar a parede, serve para capturar a alma da do feedback.

E se a única coisa que ele capturar for pó… então tenho de voltar à prancheta de desenho (e beber mais um café). A ciência faz-se assim: constrói-se o produto para poder, finalmente, entender as pessoas.

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